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PEDRO EIRAS
( PORTUGAL )

 

Pedro Eiras (Porto24 de Maio de 1975) é um escritor português. É professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, investigador do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e membro da rede internacional de pesquisa Lyra Compoetics.

 

INIMIGO RUMOR – revista de poesia.  Número 15 – 2º SEMESTRE 2003. Editores: Carlito Azevedo,  Augusto Massi.   Rio de Janeiro, RJ:  Viveiros de Castro Editora, 2003.  264  p.   ISSN  415-9767.                                         Ex. bibl. de Antonio Miranda 

       

 I

noutros tempos sim a gaivota como inúmera serenidade
antes dos sacos de lixo onde abastecem e resistem
procuro gaivotas reais descubro voos que comem destroços
procuro num livro calha ser o apocalipse
uma águia lamenta-nos dos céus (8:13)
procuro águias ainda pior envenenaram até as pombas
restam as gaivotas sim as gaivotas resistem
nem reais nem régias perfurando o látex
que preparava a milenar eternidade
gaivotas reciclando naufrágios e o nome da nossa inutilidade
fantasma da nossa excelência no exangue céu do Patmos
toleradas vidas de trapos soluçando sobre as toxinas
no nosso mar de cinzas e balanças sem afinação
suspensas se condensadas na réstia de um vento em declive
e a ninguém lembra já a engenharia pura dos ninhos


II

que assim se cubra quanto tanto se celebra
que a si própria seja estranha a poeira a que se chama glória
e exista sempre inquieta no seu manso espetáculo
que de dissimule como pouco coisa
o que sustenta o mundo e diz as profecias
que se reduza à cinza da modéstia
o fogo maior do orgulho e sua fusão a frio
e que a honra repetidamente apregoada
seja só súplica de silêncio e ervas salgadas
que o todo seja quase nada e sempre preferido Barrabás
e todos morram de sede comendo panem et circenses
e que também afinal o quase nada do que resta de tudo
precise de se mostrar brilhando sob o sol
que o santo se pavoneie (e só mergulhando
de asas abertas no diabo se possa vencê-lo)
tudo isso
tudo isso e o mais que não fique dito
na têmpora deste poema orgulhoso e descoberto
tudo isso
a ninguém lembra

*

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Página publicada em dezembro de 2023

 

 


 

 

 
 
 
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